Em 1954, o economista americano John Kenneth Galbraith publicou seu livro The Great Crash 1929 (A Grande Quebra de 1929, em português), que se tornou uma obra clássica para entender os eventos que levaram ao colapso do mercado financeiro de Wall Street e à crise econômica que se estendeu por todo o mundo no início da década de 1930.

De acordo com Galbraith, a quebra do mercado de ações em outubro de 1929 foi o resultado de uma série de fatores interdependentes, entre os quais se destacam a especulação, o endividamento excessivo, a fraude e a falta de regulamentação adequada. No entanto, o autor vai além da visão convencional que atribui toda a responsabilidade à loucura especulativa dos investidores.

Galbraith argumenta que a natureza dos mercados financeiros estava mudando rapidamente na época, com novos instrumentos de investimento, como os trusts e as holding companies, que permitiam a aquisição de grandes fortunas em pouco tempo e com pouco risco aparente. Essa mudança, segundo ele, foi alimentada pela euforia generalizada de que o progresso tecnológico e a prosperidade econômica eram irreversíveis.

No entanto, Galbraith destaca que o colapso do mercado não foi um evento isolado, mas sim parte de um ciclo maior de expansão e contração econômica que se repetiu ao longo da história. Ele argumenta que a crise de 1929 foi uma consequência da progressiva concentração de renda que se observava na sociedade americana, à medida que poucos investidores poderosos se tornavam cada vez mais ricos e a maioria da população sofria com a falta de oportunidades e as dívidas crescentes.

Embora Galbraith ofereça uma abordagem mais complexa do que a maioria das teorias convencionais sobre a Grande Depressão, algumas críticas são apontadas em relação ao livro. Algumas delas dizem respeito à tendência do autor de exagerar o papel dos mercados financeiros nas crises econômicas, negligenciando outros fatores relevantes, como a influência da política e das instituições públicas.

Além disso, algumas críticas apontam uma certa dose de romantização da época anterior ao crash, com pouca ênfase nos sinais de instabilidade que se avolumavam no mercado. Por outro lado, é inegável que a obra de Galbraith tem o mérito de olhar além da superfície dos fenômenos econômicos, revelando as conexões mais profundas entre a economia política e a sociedade em geral.

Em conclusão, A Grande Quebra de 1929 é uma obra fundamental para compreender a história económica do século XX e as raízes da crise financeira de 2008. Embora a análise de Galbraith possa não ser totalmente conclusiva, ela nos ajuda a entender as complexidades e as contradições das relações entre poder, dinheiro e política no mundo moderno.